segunda-feira, 17 de julho de 2017

A ORIGEM DA HISTÓRIA DE ALI BABÁ

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 Os contos Árabes das Mil e Uma Noites são uma coleção de antigas histórias de fonte Persa, Hindu e Árabe, reunidas sob este título. Inicialmente com várias lacunas, depois, pouco a pouco, foram sendo completadas pelos coordenadores. A primeira edição parece datar de 1548. 


                 Ali Babá é um personagem fictício, cuja história teve origem na Arábia pré-islâmica. Ali Babá e os Quarenta Ladrões faz parte do livro "As Mil e uma noites ou Noites na Arábia".
                 A história tem a sua origem na saga do rei Ali Babá do Sudão. Aquele rei recusou-se a pagar os impostos  a Al-Mutawakkil, o décimo califa legatário de Bagdá. O rei rebelde guardou escondido todo o seu ouro nas montanhas e impediu os funcionários do califa de irem à região do Mar Vermelho. Bagdá enviou o seu exército para manter o monopólio sobre a comercialização do ouro do mundo islâmico. ( Acredita-se que, na época pré-cruzada, o Sudão fornecia mais de sessenta por cento do ouro das Abássidas.) Conta-se que, em cinco anos a rebelião foi esmagada e Ali Babá levado a Bagdá. O ouro escondido por seus homens foi levado para o legatário que mandou expor à exibição pública todo o grande tesouro acumulado numa caverna nas montanhas. Ali Babá, rei derrotado, preso e levado a Bagdá onde ficou exposto juntamente com todo o seu tesouro. Humilhado e obrigado a passar em todas as cidades importantes que estavam no caminho até a capital Samara.  Mais tarde foi concedido o perdão a Ali Babá que recebeu de volta o que havia sido confiscado e então doou seu ouro aos necessitados. E assim surgiu a lenda sobre a caverna dos 40 ladrões. 


                Estas histórias sempre fascinaram crianças, jovens e adultos. 

                Quando eu era criança tinha grande curiosidade, especialmente sobre as histórias de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, como também Aladim e a Lâmpada Maravilhosa.
                Imaginava que Ali Babá teria sido o chefe de uma quadrilha de 40 ladrões. Minha mãe me narrava a parte que ela conhecia e o restante ficava por conta da minha imaginação. 
                Eu nasci em Abdon Batista, interior de Santa catarina, hoje uma pequena cidade progressista, mas naquela época era uma simples vila de colonos. Costumava comprar meus livros, por correspondência, pelo correio do Sr. Joanim Santim. Quando chegava algum livro ele avisava meu pai, seu companheiro de carteado, e eu logo corria para buscar minha tão esperada correspondência. Nunca consegui comprar o livro de Ali Babá e isto sempre me incomodou; quando tive a oportunidade, comprei vários, com ilustrações diversas. Descobri, então,  que haviam muitas adaptações sobre aquele tão famoso Ali Babá. Hoje existem inúmeras histórias contadas por grandes escritores e até até versões criadas para o cinema (como Disney), e também para TV. 
                 Agora, aqui estou eu, criando minha própria adaptação desta história tão fascinante.

Nicéas Romeo Zanchett 

domingo, 25 de junho de 2017

ALI BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES

      CAPÍTULO I 


             A sultana Scheherazade, despertando pelos cuidados de Dinazarda, sua irmã, dispo-se a contar para o sultão das índias, seu esposo, a história prometida.

                  - Poderoso sultão, disse ela, ouça-me por favor: 
                  - No reino da Pérsia, nos estados de Harun-Al-Raschid, havia dois irmãos, um dos quais se chamava Cassim e o outro Ali Babá. O pai tinha lhes deixado poucos bens e como havia distribuído em partes iguais suas fortunas tinham o mesmo valor. Mas os destino dos dois alterou a forma de vida e a fortuna de cada um.
                 Cassim casou-se com uma mulher que, pouco depois do casamento, herdou um loja bem provida, e  um armazém com grande estoque de mercadorias muito valiosas. Dessa forma, Cassim veio a ser o comerciante mais rico da cidade. 
                 Ali Babá, que, pelo contrário, tinha casado com uma mulher muito pobre, vivia numa humilde casinha, e a sua única ocupação era ir cortar lenha num bosque que havia ali perto que depois vendia na cidade. Uma das poucas propriedades que tinha era seus três burros que o ajudavam na tarefa de transportar lenha. 
                 Como sempre fazia, Ali Babá passava a maior parte do seu tempo na floresta ocupado com seu árduo trabalho.
                 Um dia, estava Ali Babá cortando lenha quando percebeu que, ao longe, surgiu uma grande nuvem de poeira; logo depois conseguiu ouvir o ruído de uma grande cavalgada; eram cavalos que vinham em sua direção a galope. À medida em que se aproximavam aumentava o ruído da cavalgada e então percebeu que estavam chegando próximo ao seu local de trabalho. Olhou com atenção e viu que era um grupo de homens montados em lindos cavalos. 
                 Ali Babá nuca ouvira falar que havia algum ladrão naquele lugar, mas imaginou que poderia ser ladrões que ali estavam de passagem. Por precaução resolveu esconder-se e ver o que iria acontecer. Subiu em uma árvore bem copada e ali ficou a observar, sem ser visto, o movimento que se descortinava em sua frente. Aproveitou que estava bem protegido e contou quantos cavaleiros havia; chegou ao total de 40 todos fortes e bem vestidos. Já não tinha mais dúvida, eram sim ladrões, talvez salteadores de estradas e cidades que eram muito comuns naqueles tempos. 
                 O cavaleiros chegaram perto de uma rocha e apearam. 
                 Ali Babá pensou: "como nunca ouvi falar de roubo nessa região? devem roubar em outro lugar e vir se esconder aqui."
                 Cada um deles amarrou as rédeas do seu cavalo e uma árvore, pôs-lhe ao pescoço um saco de alimento - talvez cevada ou milho - que trazia na garupa. Ali Babá viu que, além do alimento para os animais, traziam também pesadas malas e ficou imaginando que seriam o fruto de seus roubos. 
                 Entre todos aqueles homens haviam um que estava mais em evidência e sempre dando ordens aos demais, e julgou que seria o chefe dos ladrões. Este senhor chegou bem em frente uma grande rocha e disse: 
                 - Abre-te Sésamo!  - e assim que acabou de proferir a rocha movimentou-se e uma grande porta se abriu. Esperou então que todos os seus homens entrassem e, depois de ter entrado também, disse: Fecha-te Sésamo! e a porta se fechou. 
                 Já havia muito tempo que todos estavam dentro da montanha rochosa. Ali Babá, temendo que algum deles, ou todos, saíssem dali e o vissem, pensou em saltar da árvore e fugir, mas vencido pela curiosidade ficou a esperar com paciência até o final. Chegou a pensar em pegar um daqueles belos cavalos, seus burros pela rédea e voltar para casa, mas pensou melhor e achou que era muito arriscado, pois os ladrões poderiam alcançá-lo facilmente pelo caminho. Depois de muito pensar decidiu continuar ali bem escondido esperando para ver o que iria acontecer. 
                 Passado mais de duas horas abriu-se a porta do rochedo e os ladrões saíram enfileirados tendo à frente o seu capitão. Depois que todos haviam saído o capitão aproximou-se da porta e disse: 
                 - Fecha-te Sésamo! 
                 Em seguida cada ladrão tomou seu cavalo, colocou sua mala na garupa e montou. Quando o chefe viu que todos estavam prontos, pôs-se à frente deles e tomaram o caminho de volta, seguindo para o mesmo lugar de onde tinham vindo.
                 Ali Baba  preferiu não descer logo da árvore. Imaginou que algum deles poderia ter esquecido alguma coisa e assim poderia voltar; se isso acontecesse sua vida corria risco.
         Do alto da árvore podia ver a fumaça de poeira que faziam estada a fora até desapareceram e os perdeu de vista. Contudo se manteve por mais um bom tempo sobre a árvore. 
                 Já com mais tranquilidade e sentindo-se seguro, desceu e foi até aquela rocha onde havia a tal porta. Parou em frente  dela e repetiu as palavras do capitão: 
                 - Abre-te Sésamo!  e a porta se abriu totalmente. 
                 Ali Babá imaginara que aquele deveria ser um local bem escuro por tratar-se do interior de uma montanha; mas ficou espantado com a grandiosidade daquele local. No alto havia uma abóbada que recebia claridade do sol que vinha do alto por uma abertura. Viu que ali havia muito alimento estocado, além de grande quantidade de fardos de ricos tecidos, todos empilhados uns sobre os outros.Havia também almofadas de seda e brocado, tapetes de grande valor, ouro e prata em moedas que enchiam grandes sacos e bolsas. Ao ver tanta riqueza imaginou que aquilo era trabalho de mais de um século; que aquela gruta deveria ser um esconderijo de ladrões que se sucederam por várias gerações. 
                Depois de passado o primeiro espanto, Ali Babá decidiu o que deveria fazer;  entrou na gruta e viu que logo a porta se fechou. Isto, porém, não o incomodou, pois sabia como abri-la. Foi direto para o ouro, especialmente o que era cunhado em moedas; Transportou tudo o que podia até seus burro; jogou toda a lenha fora e carregou-os com todo o ouro que pode. Para disfarçar colocou alguns feches de lenha sobre os sacos de ouro e preparou-se para partir. Antes, porém,  ficou em frente à porta e falou a palavra mágica: 
                - Fecha-te Sésamo! e logo a porta se fechou. 
                Descobriu que quando estava dentro da gruta a porta se fechava sozinha, mas estando do lado de fora ela se mantinha aberta e precisava de uma ordem para fechar-se. 
                Então tomou o caminho de casa; ao chegar  fez entrar os três burros  carregados num pequeno patio que havia nos fundos e fechou-o com todo o cuidado para que ninguém visse o que estava acontecendo ali. Primeiro retirou a lenha e em seguida os sacos de ouro que levou cautelosamente para dentro da pequena casa e bem em frente à sua mulher. Esta percebeu logo que naqueles sacos haviam legítimas moedas de ouro. A princípio teve um mau pressentimento, imaginando que seu marido fizera um roubo na cidade e não conteve o grito: 
                - Ali Babá, como podes ter feito isto, sois tão desgraçado que...
                - Sossega mulher, respondeu ele, não faças mau juízo de mim; eu não sou ladrão, pois quem rouba ladrão merece cem anos perdão.  Espere que vou lhe contar o que houve e verás que tenho estou certo agindo assim. Na verdade fui agraciado pela sorte de estar no lugar certo e na hora certa. Em seguida despejou todo o conteúdo dos sacos sobre a mesa; como era de se esperar, o tinir daquelas moedas de oiro entusiasmaram a pobre mulher, a quem ele fez a narrativa da maravilhosa descoberta recomendando segredo absoluto sobre o ocorrido.
                  Quando voltou a si do espanto causado pela presença de tanto dinheiro, congratulou-se com o marido, e se comprometeu a contar peça por peça. 
                   - Não sabes o que está dizendo, mulher; contar tudo isso é um enorme trabalho que levaria muitas horas e não podemos correr o risco de, de repente chegar alguém e ver. Vou imediatamente abrir uma cova profunda para enterrar, e não podemos perder tempo.  
             - Mas querido, seria bom sabermos mais ou menos quanto temos de riqueza. Vou conseguir uma medida com o vizinho e calcularei tudo enquanto abres a cova. 
                   - Mulher, respondeu Ali Babá, não serve para nada o que pretendes fazer, devias seguir meu conselho e desistir desa ideia. Mas sé é isso que te agrada faça-o, lembrando de ter todo o cuidado com nosso segredo. 
                    A mulher de Ali Babá saiu às pressas e foi a casa do seu cunhado que morava ali perto. Cassim não estava em casa, mas estava a sua mulher a quem pediu a medida. 
                  - Com todo o prazer, disse-lhe a cunhada, espera um momento que já vou buscá-la. 
                  A mulher de Cassim voltou logo com a medida, mas ficou curiosa porque sabia que o irmão de Cassim era muito pobre. Para descobrir o que pretendiam medir ela passou uma cola no fundo da medida e entregou-a à mulher de Ali Babá. 
               Voltando para casa, enquanto Ali Babá cavava a vala, sua mulher mediu todos os sacos de moeda. Em seguida foi devolver aquela medida para sua cunhada sem perceber que no fundo da medida havia ficado uma moeda de ouro grudada.
         Tão logo a mulher de Ali Babá lhe deu as costas a ardilosa mulher de Cassim foi examinara medida. Quando viu a moeda de ouro no fundo da medida ficou muito admirada, pois sabia da pobreza em que viviam seus cunhados. 
                A partir daquele momento a mulher de Cassim não conseguia mais pensar em outra coisa. Muitas ideias vinham à sua cabeça, mas não conseguia entender de onde Ali Babá teria tirado aquelas moedas. 
                  Quando seu marido chegou não conteve seus pensamentos e lhe disse: 
               - Marido, você pensa que Ali Babá é pobre, mas está muito enganado; ele guarda muita riqueza em moedas de ouro; é infinitamente mais rico que tu; tem tantas moedas que para contar precisa de uma medida. 
                  Cassim pediu-lhe uma melhor explicação sobre aquele enigma. Esta então lhe contou em detalhes tudo o que ocorrera, não esquecendo do ardil de que se servira para obter aquela descoberta e ao mesmo tempo mostrou a moeda de ouro que ficara no fundo da medida. Tratava-se de uma moeda tão antiga que já nem se lembravam do príncipe cujo nome estava na legenda que a circundava. 
                  Em vez de ficar feliz  pela fortuna do seu irmão, Cassim foi tomado por uma inveja e ódio mortal.
               Na manhã seguinte, tão logo os primeiros raios de sol apareceram, foi Cassim correndo á casa do irmão, onde não aparecia desde que casara-se com a viúva rica.  Alí chegando foi logo entrando e dizendo: 
               - Ali Babá, eu sei que sois bastante reservado em seus negócios; gostas de fingir a todos que és muito pobre e até miserável, mas já sei que costuma medir seu ouro aos alqueires.
                  Espantado com todo aquele ímpeto de seu irmão, respondeu-lhe: 
                  - Não sei do que está falando, meu irmão. 
              - Não adianta disfarçar, disse Cassim, já sei de tudo, e mostrou a moeda que tinha ficado no fundo da medida. Quantas peças tendes iguais a esta? 
              Ouvindo isso, Ali Babá percebeu que Cassim e sua mulher, usando de astucioso método, havia descoberto seu segredo. Mas, pensou, o mal já está feito e não há como reparar. Sem mostrar a seu irmão o menor sinal de espanto ou medo, contou-lhe de que maneira havia descoberto o esconderijo dos ladrões; prometeu-lhe dar-lhe parte daquele tesouro desde que guardasse absoluto segredo. 
                 - É isso mesmo que eu quero, disse-lhe Cassim com sua costumeira arrogância. 
Mas, além disso, quero saber onde está esse tal tesouro e a maneira como devo proceder para chegar até ele.  Se não for assim irei denunciá-lo à justiça.  Então, pela lei, tirar-vos-ão tudo o que já conseguiste. Quanto a mim só terei a ganhar, pois, mesmo não ficando com parte do tesouro, serei gratificado por tê-lo denunciado. 
               - Ali Babá, que conhecia bem o mau caráter do irmão, contou-lhe detalhadamente como tudo havia acontecido. 
             Já sabedor de tudo oque ocorrera com o irmão, Cassim deixou-o e partiu com esperança de apoderar-se de todo o tesouro. 
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                                                             CAPITULO II 
O ganancioso Cassim toma a decisão de apoderar-se de todo o tesouro.

               Durante toda aquela noite o ganancioso Cassim não conseguiu dormir; só pensava num meio de apoderar-se de todo o tesouro dos ladrões. 
                 A rompes da manhã saiu de casa, conduzindo dez possantes cavalos monidos de cestos e caixotes sobre seus lombos. A intenção de Cassim era trazê-los todos cheios de  moedas de ouro; ia pelo caminho pensando nas diversa viagens que deveria fazer conforme fosse a abundância que encontrasse na gruta de pedra. 
               Seguiu pelo caminho que Ali Babá lhe ensinara e constatava que todas as informações dadas pelo irmão eram verdadeiras; viu a árvore onde seu irmão havia se escondido em em seguida chegou à porta do rochedo. Ao identificá-la posicionou-se à sua frente e pronunciou as palavras mágicas: 
                  - Abre-te Sésamo! A porta imediatamente abriu-se, ele entrou e ela mesma fechou-se em seguida. 
              Dentro da gruta, Cassim ficou obcecado como um louco diante de tanta riqueza. Apesar de toda a explicação detalhada por Ali Babá, não imaginava que pudesse have tudo aquilo. Andou por todos os cantos da caverna imaginando que tudo aquilo agora já era seu. Avarento, e ambicioso de riquezas, passou quase todo o dia sem tirar os olhos de tudo o que havia por ali, vendo, mexendo, examinando minuciosamente os objetos; tão entretido ficou a ponto de esquecer-se de que tinha vindo ali para carregar os seus cavalos e voltar para casa. Tornando, porém, a si, começou a carregar quantos sacos pode, cheios de moedas de ouro, para junto da porta. 
                 No momento de dar a ordem para que a porta de pedra se abrisse falou uma palavra errada. Em vez de dizer "Abre-te Sésamo" disse  "Abre-te Cevada". Tinha esquecido a verdadeira frase. Foi grande seu espanto vendo que a porta não se mexia; Fez várias tentativas com outros nomes e nada; a porta continuava fechada. 
              Com esta desgraça não contava o prepotente Cassim.  No auge do desespero e pensando no perigo que corria, arremessou os sacos de dinheiro contra ela. Ficou a andar de um lado para outro, sempre tentando lembrar o verdadeiro nome que deveria pronunciar. 
            O tempo passava e os riscos aumentavam. As mesmas riquezas que antes lhe fascinavam, agora lhe apavoravam. Ficava pedindo a Deus que seu irmão chegasse por ali antes dos ladrões. Mas a sorte não estava do seu lado e indigno de compaixão lá ficou Cassim prisioneiro de sua desmedida ambição. 
                  Quase ao final do dia lá vinham os ladrões a caminho da gruta.  De longe avistaram os possantes cavalos de Cassim que pastavam em plena liberdade perto da gruta.  Como era de se esperar, suspeitaram lodo daquela novidade. Avançando violentamente contra os animais fizeram-nos fugirem correndo em diversas direções pelos campos a fora até perderem-se de vista.
                 Os ladrões nada fizeram para apanhar os cavalo; queriam mesmo era encontrar o dono deles e descobrir o que estava fazendo por ali. 
                 Enquanto alguns circularam em volta do rochedo à procura do intruso, o capitão e outros comparsas, de arma em punho foram direto para a porta, e pronunciando as palavras certas fizeram-na abrir-se para que todos entrassem. 
                Cassim, que de dentro da gruta ouvira o tropel dos animais, sabia que eram os ladrões que haviam chegado. Desesperado e temendo por sua vida pensou em sair correndo pela porta tão logo esta se abrisse. 
                  Tão logo ouviu as palavras "Abre-te Sésamo" correu para junto da porta e jogou-se conta o corpo do capitão jogando-o ao chão. Mas não conseguiu escapar dos outros bandidos que, com suas armas em punho o atacaram esfaqueando-o até a morte. 
                 Depois disso entraram na gruta e encontraram os sacos que estavam junto à porta para serem colocados no lombo dos Cavalos de Cassim; trataram logo de colocá-los nos seus devidos lugares sem dar pela falta da parte que havia sido levada por Ali Babá. 
                  Mais tarde, reunidos em conselho, todos concordaram com a razão porque aquele homem não conseguira sair, mas não conseguiam entender como havia entrado na gruta.  Alguns imaginavam que teria entrado pela abertura no alto da cúpula, porém a altura era tal que ninguém sobreviveria a uma quela. Ninguém imaginava que o visitante invasor tivesse entrado pela porta, uma vez que era segredo absoluto da quadrilha. Depois de muito "quebrar a cabeça" alguns começar a aceitar que alguém tivesse descoberto as palavras mágicas para abrir a porta da gruta. 
          Naquele momento o que importava para todos era garantir que sua riqueza permanecesse em segurança; decidiram cortar o corpo do invasor em quatro pedaços e os colocaram em ambos os lados da porta de pedra, tanto na parte externa como no interior da gruta. Desse modo agindo estariam intimidando qualquer pessoa que tentasse entrar para apoderar-se do tesouro. 
                  Após estas terríveis iniciativas e nada mais tento a tratar por ali resolveram seguir viagem. Montaram seus cavalos e seguiram caminho para continuar a sua vida de pilhagem, atacando caravana de pessoas em estradas com pouco movimento e cidades desprotegidas. 
                  Já era noite e a mulher de Cassim estava inquieta porque seu marido não havia aparecido; foi até a casa de Ali Babá e toda assustada disse-lhe: 
                  - Estou muito preocupada porque já está muito tarde e Cassim ainda não chegou. E contou-lhe que Cassim saíra bem sedo com dez cavalos para buscar todo o ouro que pudesse. Estava muito arrependida por ter-se metido nos negócios de Ali Babá e sua mulher. 
                  Ali Babá não esperou que a cunhada lhe pedisse para ir à procura de Cassim. Partiu imediatamente com seus três burros rumo ao bosque. Aproximou-se da rocha e, como não tivesse visto nem o irmão nem os seus dez cavalo, ficou preocupado e teve um mau pressentimento, mas seguiu em frente. 
             Pôs-se diante da porta pronunciou as palavras mágicas e a porta abriu-se naturalmente.  Ficou horrorizado com o triste espetáculo de ver seu irmão cortado em quatro pedaços. Não vacilou nenhum instante sobre a decisão que deveria tomar. Queria prestar a Cassim suas últimas homenagens, mesmo sabendo que este nunca lhe demonstrara amizade ou consideração. 
                  Entrou na gruta, apossou-se dos dois embrulhos com pedaços do cadáver e levou-os para coloca-los em um dos burros. Em seguida cobriu com pedaços de lenha para ocultá-lo; carregou os outros dois burros com ouro e lenha, como já fizera antes. Em seguida tratou de fechar a porta e preparou-se para voltar à cidade.  Mas, para maior segurança, esperou que anoitecesse e só então partiu. 
                 Ao chegar em casa só fez entrar no páteo os dois burros carregados de ouro. Depois de ter orientado sua mulher para descarregá-los e contado rapidamente o que havia acontecido com Cassim, em seguida tomou caminho da casa da cunhada para contar-lhe o que acontecera com seu irmão. 
                Quando chegou à casa da cunhada foi recebido por sua escrava Morgiana, senhora muito hábil e fértil em invenções para resolver as coisas mais difíceis.   Entrou no páteo descarregou a lenha e os dois embrulhos e chamando a jovem senhora à parte contou-lhe tudo oque havia acontecido com seu irmão. Disse-lhe então:
                - Morgiana, vou lhe confiar este segredo que nunca deverá ser revelado. Aqui nestes dois embrulhos estão os restos mortais de Cassim; é preciso que seja enterrado como se tivesse morrido de morte natural. 
                Morgiana chamou sua patroa que chegou e foi logo perguntando: 
                - Meu irmão, que notícias trazes do meu marido? 
                - Irmã, respondeu Ali Babá, nada posso dizer sem que ouças primeiro tudo o que vou lhe contar.  Então Ali Babá contou-lhe tudo o que ocorrera em sua viagem para entrar seu irmão Cassim. E continuou dizendo:
                - O mal acontecido não tem mais remédio. Mas saiba que tudo farei para que se sinta protegida. Proponho que juntemos nossos bens e casemo-nos, pois assim formaremos uma única família. Quanto a minha mulher não precisa se preocupar que não terá ciúmes e tenho certeza que as duas viverão e perfeita harmonia. (Naquele tempo era comum hum homem desposar várias mulheres). Se concordas com a proposta temos de tomar providências para o sepultamento de Cassim de modo que todos imaginem que sua morte foi natural, e disso se encarregará sua criada Morgiana. Da minha parte tudo farei para que encontres novamente a felicidade. 
                 A viúva ficou a imaginar perguntando-se: -"Que melhor partido poderei tomar do que este que me propõe Ali Baba?" " Perdi um marido rico, mas encontrei outro mais rico ainda." Não respondeu nada, mas demonstrou que estava de acordo. 
                  Ali Babá deixou a viúva de Cassim e foi dar instruções para Morgiana sobre o sepultamento voltando em seguida para casa. 
                 Morgiana não perdeu tempo e saiu em direção à casa de um boticário. Pediu que lhe vendesse uns comprimidos muito eficazes para doenças graves. O boticário entregou-lhe o pedido perguntando quem estava tão doente: 
            - AH!, respondeu Morgiana, dando um longo suspiro continuou "é Cassim meus estimado amo! Temos bem poucas esperanças de salvá-lo, não fala e nem come nada." 
                 No dia seguinte Morgiana voltou à casa do boticário e pediu-lhe um remédio que só era utilizado em graves situações. 
                  - Ai! , disse com lágrimas nos olhos e na maior aflição, acho que nada mais poderá salvá-lo, mas vamos fazer mais esta tentativa. Farei qualquer coisa para não perder tão bom amo. 
                  Por outro lado, os vizinhos viram que Ali Babá e sua mulher estavam muito tristes e toda hora entravam e saiam na casa de Cassim. Portanto não causou nenhuma admiração que altas horas da noite se ouvisse gritos e choro de desespero da sua mulher e principalmente de Morgiana, que correu avisar a todos da morte de Cassim. 
                  No dia seguinte, ao amanhecer, Morgiana que sabia de um sapateiro remendão que sempre abria sua loja antes dos outros, saiu e foi buscá-lo. Chegou à loja, deu bom dia e foi logo entregando-lhe uma moeda de ouro dizendo: 
                  - Tenho outras que lhe darei depois, mas tem que fazer um trabalho em segredo. 
                  Este então lhe respondeu sorrindo: 
                - Por mais belezuras como esta que me deste farei o que quiser e em absoluto segredo. 
                  - Babá Mustafá, disse-lhe Morgiana, pega todos os equipamentos que irá precisar para coser e venha comigo. Mas tem uma condição: terei de vendar seus olhos durante o trabalho que ira fazer. 
                  Ouvindo isso, Babá Mustafá ficou muito intrigado e respondeu: 
              Oh! por acaso queres me levar a fazer alguma coisa contra minha consciência ou contra minha honra? 
                - Deus me livre, respondeu Morgiana, pondo outra moeda de ouro em sua mão. Nunca lhe pediria para fazer alguma coisa contra sua honra ou sua consciência. Pode vir sem receio. 
                  Babá Mustafá  deixou-se conduzir e Morgiana, depois de lhe vendar os olhos com um grosso lenço conduziu-o até a casa do defunto. Só retirou a venda depois que chegaram ao quarto onde estava o corpo já com todos os pedaços prontos para serem costurados dizendo: 
          Babá Mustafá, trouxe-te aqui para que cosas as peças que está vendo sem fazer perguntas. Não percas tempo e quando tiver terminado lhe darei outras moedas. 
                  Quando Babá Mustafá terminou seu trabalho Morgiana deu-lhe mais duas moedas e vendou-lhe novamente seus olhos insistindo que deveria guardar absoluto segredo. Em seguida conduziu-o até um determinado lugar e tirando -lhe as vendas disse-lhe que já poderia voltar para sua loja. 
                 Voltando para casa Morgiana pôs um grande caldeirão de água para aquecer e então lavar o corpo do defunto. Ali Babá veio ajudar Morgiana naquela tarefa. Depois de lavar o corpo e perfumá-lo com diversos aromas, vestiu-lhe a roupa mortuária como era de costume.
           Na casa de Cassim, Ali Babá tomara todas as providências para o enterro. Um carpinteiro entregou o caixão que havia encomendado; Morgiana recebeu-o na porta para que não percebesse nada de estranho. Em seguida ela foi até a mesquita avisar que já estava tudo pronto para a cerimônia de sepultamento. A escrava Morgiana e o irmão do defunto trataram de colocar o corpo no caixão pregando solidamente a tampa. Feito isso o próprio Ali Babá foi até a mesquita para providenciar o início da cerimônia. 
               Cassim já era muito conhecido, embora não muito estimado, mas mesmo assim vieram muitas pessoas ao cerimonial de seu enterro. Alguns senhores da mesquita se ofereceram para carregar o caixão, mas Morgiana lhes disse que havia contratado quatro homens para esta tarefa. Quando chegou o Iman e outros ministros da religião, os quatro homens puseram o caixão no ombro e seguiram o sacerdote que foi rezando suas orações até o cemitério. Morgiana, na qualidade de escrava, acompanhava o cerimonial com a cabeça descoberta, soluçando, chorando e dando gritos de dor.  Ali Babá seguiu acompanhado de muitos vizinhos que assim prestavam suas últimas honras ao defunto.  
               Com todas aquelas precauções tomadas por Morgiana e Ali Babá, tudo pareceu natural e somente a mulher de Ali Babá, a viúva, Morgiana e o próprio irmão souberam sobre a verdadeira forma como Cassim morrera.  O restante de todos os moradores nunca soubera a verdade. 
                  Durante e depois da cerimônia do enterro a viúva, rodeada por mulheres amigas e vizinhas, chorava inconsolável com grande alarido, soluços e lamentações.
                 Passados três ou quatro dias depois do enterro, Ali Babá mudou-se com sua mulher para a casa da cunhada a fim de estabelecer-se definitivamente naquela residência. Levou consigo alguns poucos pertences de estimação que possuía e assim todos ficaram sabendo de seu casamento com a viúva.  Ninguém estranhou aquele ocorrido porque entre os maometanos  estes matrimônios são muito naturais. 
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CAPÍTULO III
                  Passado algum tempo, quando os ladrões voltaram ao seu esconderijo no bosque, ficaram admirados de não encontrarem o corpo de Cassim. Mais impressionados ficaram quando perceberam que os sacos de ouro também haviam sumido. O capitão lhes disse: 
                  - Fomos descobertos. Precisamos encontrar uma solução rápida para isso, caso contrário perderemos toda a nossa riqueza. Isto nos é muito sagrado, pois que trata de uma fortuna conseguida por nós e por todos os nossos antepassados.  Pela perda que tivemos é bem verdade que aquele intruso que matamos descobriu nosso segredo e contou a outra pessoa. Como já matamos um é preciso descobrir e matar também o outro.  Que acham meus caros companheiros? E todos demonstraram que aprovavam e posição de seu capitão.  Ele então lhes disse;   
                 - Obrigado a todos! Não esperava outra atitude de vocês. Mas antes de mais nada é preciso que algum de vós, que seja corajoso, atrevido, hábil e empreendedor, vá à cidade, sem uso de armas e em trajes de viajante estrangeiro e lá descobrir se alguém fala da morte daquele intruso. Precisamos sabem quem era e onde vivia. Isto é muito importante para não tomarmos decisão errada que mais tarde venhamos a nos arrepender. Também é importante estar atento para não sermos enganados com alguma falsa narração. Então vamos logo decidir que, em caso de sermos enganados fica aprovada a pena de morte para o traidor. Alguém tem algo a dizes? 
                 - Meu caro Capitão, eu me encarrego dessa missão. 
                 Apos vestir-se de forma disfarçada, o encarregado daquela missão  esperou anoitecer e partiu rumo à cidade e nela chegando ao amanhecer. 
                 Esperou na praça e logo viu que uma loja esta abrindo as portas. Era a sapataria de Babá Mustafá. 
              - Bom dia meu caro homem, disse-lhe, vejo que o senhor começa seu trabalho bem cedo. O senhor me parece já bastante idoso e é bem provável que já não enxergues direito; como consegue coser? 
                 Babá Mustafá então lhe respondeu: 
              - Vê-se que o senhor não me conhece; eu já estou velho, mas meus olhos estão perfeitos; ainda ontem cosi o corpo de um morto que fora mutilado em quatro partes, e cuja família queria sepultá-lo inteiro. E veja o senhor que aquele lugar estava com pouca claridade.
                 Ouvindo isso o ladrão mostrou-se espantado e disse: 
               Coseu um morto! como isso é possível? afinal porque coser um morto? Imagino estejas a dizer que coseu a mortalha para envolver o morto.
                 - Não, não, disse Babá Mustafá;  eu bem sei oque estou dizendo. 
                 Depois dessas palavras o ladrão não necessitava de nenhuma outra explicação para saber que tinha descoberto o que procurava. 
                Olhou longamente para Babá Mustafá e então dei-lhe uma moeda de ouro e disse-lhe: 
                - Não insisto que me contes seu segredo, mas posso assegurar-te que saberia guarda a sete chaves se resolveres confiar em mim. A única coisa que me deixa curioso é que pelo menos saber em qual casa efetuou o tal trabalho tão estranho. 
                 Então Mustafá lhe disse: 
           - Ora, meu om senhor; mesmo que quisesse contar-lhe não saberia, pois todo o acontecido foi feito em segredo. Primeiro me levaram a um local que não conheço, depois me vendaram os olhos e me levaram até uma casa; e depois de terminado o trabalho me vendaram novamente e me trouxeram de volta. 
                 Mas o ladrão insistiu: 
             - Pelo menos consegue lembrar-te mais ou menos do caminho por onde te fizeram passar com os olhos vendados? Vem comigo até esse lugar e lá tapar-vos-ei os olhos e assim certamente conseguirá lembrar o caminho por onde andou. Como todo o trabalho merece uma recompensa, dar-lhe-ei duas moedas de ouro como essa, mostrando-lhe a recompensa para aguçar sua ambição; vamos, faça-me este favor que será bem recompensado. 
                Aquelas duas moedas eram tentadoras e mexeram com Babá Mustafá. Contemplou-as por algum momentos pensando consigo mesmo o que deveria fazer. Finalmente fez um gesto de concordância, pegou as duas moedas pôs na bolsa de sua cinta dizendo:
               - Não posso assegurar-vos  de que me recordarei ao certo do caminho por onde fui, mas como insistes tentarei lembrar para levá-lo até lá. 
                 Diante da alegria do ladrão, levantou-se Babá Mustafá e, sem fechar a loja, na qual pouca coisa tinha que pudesse despertar a cobiça de algum gatuno, juntos seguiram até o lugar onde Morgiana o teria levado. 
                 - É bem aqui, disse ele, que me vedaram os olhos, e estava com minha frente voltada exatamente para este lado que agora me encontro. 
                 Então o salteador, que trazia consigo um lenço, vendou-lhe os olhos, e puseram-se a caminho; ora lado a lado, ora conduzindo, ora deixando-se conduzir, até que Mustafá parou e disse: 
                - Foi por aqui. Parece-me que não fui mais adiante. Estava certo, pois ali era a casa de Cassim, onde já habitava Ali Babá com suas duas esposas. Antes de desvendar os olhos de Mustafá, o salteador tirou um giz do bolso e marcou a porta daquela casa com um sinal. Depois tirou a venda e perguntou a Mustafá se sabia a quem pertencia aquela casa. Respondeu-lhe o sapateiro que não morava ali e por isso não conhecia o dono daquela casa. 
                 Vendo o salteador que já tinha conseguido o que queria de Mustafá, agradeceu-lhe o trabalho, despediu-se, enquanto o sapateiro voltava para sua loja, dirigiu-se para a floresta, contente pelas boas notícias que levava aos companheiros. 
              Pouco depois saía Morgiana de casa de seu amo para fazer compras na cidade; ao voltar percebeu casualmente que havia uma marca de giz que alguém fizera na porta de seu novo amo; parou e examino-a detalhadamente achando aquilo muito estranho. Falou consigo mesma: 
                 - Que sinal será este. É bem provável que alguém está querendo fazer algum mal ao meu amo; será que foi por simples diversão? Seja como for, a cautela e prevenção nunca fizeram mal a ninguém. 
                 E apanhando um pedaço de giz marcou diversas outras portas com o mesmo sinal. Em seguida entrou em casa, mas não contou nada ao seu amo e nem à sua ama. 
                 O salteador continuava seu caminho em direção à floresta. Chegando à gruta contou ao capitão e seus demais companheiros tudo o que havia acontecido. Todos ouviram com muita atenção e grande satisfação; o capitão foi o primeiro a falar:
                 - Companheiros, disse, não podemos perder tempo; partamos bem armados, mas sem que ninguém perceba; depois de entrarmos na cidade vamos nos separar uns dos outros para não levantar suspeita; vamos decidir agora que o lugar da reunião será na grande praça e vamos chegar aos poucos e por diversos caminhos para não levantar suspeitas. Eu vou na frente com o nosso camarada que descobriu a tal casa para avaliar melhor as condições para agirmos. 
            Todos ficaram de pleno acordo e aplaudiram as diretrizes dadas por seu capitão. Prepararam-se para a partida. Começaram sair em dois outros parceiros, mantendo-se separados por uma distância considerável entre os grupos. Dessa forma entraram na cidade sem despertar suspeita e foram aos poucos até a praça central. O capitão e seu companheiro explorador saíram ao final e foram os últimos a chegar à praça.  O chefe foi conduzido pelo explorador até a rua onde estava a casa com a porta marcada. Ao chegar àquele lugar, para seu espanto, havia outras portas marcadas com o mesmo sinal. Perguntou então ao seu guia que havia feita a marca qual era a verdadeira. O salteador, bastante assutado e confuso, respondeu:
               - Não estou entendendo como isso é possível; lhe juro que só marquei uma e agora com tantas marcadas igualmente não tenho como identificar a verdadeira.
               O capitão, vendo que seus planos não haviam dado certo, resolveu que deveriam voltar a praça e conversar com os demais companheiros.  Lá chegando contou-lhes o ocorrido e sugeriu que todos deveriam voltar para a gruta e pensar em outra estratégia para descobrir quem mais sabia do seu segredo. 
            Quando chegaram à floresta, explicou-lhes o capitão qual a razão de ter ordenado aquela retirada. Ali o guia foi unanimemente declarado culpado e réu de morte; ele próprio se condenou também, reconhecendo que tivera pouca precaução para garantir o sucesso de sua tarefa e a sentença foi imediatamente executada. 
              Após este fracasso, outro ladrão se dispôs para fazer a viagem com a mesma finalidade.  Pôs-se a caminho, e chegando à cidade foi direto conversar com o sapateiro Babá Mustafá.  Depois de combinarem voltar à casa procurada, outra vez foi vendado e dessa forma repetiu tudo o que havia feita anteriormente. Chegaram à casa de Ali Babá e o bandido lhe marcou a porta com tinta vermelha e foram embora. 
                Pouco depois saiu Morgiana de casa e quando voltava percebeu o sinal vermelho na porta do seu amo. Providenciou logo uma tinha daquela cor e marcou as outras também.
            Quando chegou ao bosque e se reuniu aos companheiros, contou-lhes como tinha procedido para que não houvesse dúvida sobre a verdadeira casa. Puseram-se logo a caminho da cidade. Sem perder mais tempo o capitão e seu novo guia foram até a casa que havia sido marcada. Mas o mesmo havia acontecido, ou seja, encontraram varias portas com a mesma marca vermelha. 
                 Diante daquele novo contratempo o capitão ficou muito indignado, e o seu novo guia tão atrapalhado e confuso como o outro. A decisão foi a mesma adotada da outra vez; voltaram todos para a floresta e o ladrão guia foi também condenado à morte e executado ali mesmo.
               Depois de ter perdido dois dos seus mais corajosos homens, o capitão temeu perder mais algum e resolveu ele mesmo se encarregar daquela tarefa. Pôs-se a caminho e foi ao encontro do sapateiro que, cheio de ganância, lhe prestou o mesmo serviço feito aos outros dois.       
                 Ao chegar à casa de Ali Babá o capitão dispensou Mustafá e ficou por ali. Resolveu que não deveria fazer nenhum outro sinal e em vez disso procurou memorizar bem aquele local passando várias vezes em frente àquela porta.
                Satisfeito com sua viajem, voltou para o bosque e quando chegou à gruta, disse para a quadrilha: 
          - Companheiros, finalmente estamos no caminho certo para nossa vingança. Conheço bem a casa do culpado e já sei como iremos castigá-lo. Explicou a todos como deveriam proceder. Ordenou que comprassem dezenove cavalos machos e trinta e oito  odres de azeite, um cheio e os outros todos vazios. (Odres é um recipiente feito com pele de animais que servia para transportar líquidos).  
                  Em dois ou três dias os ladrões conseguiram comprar todos os recipientes; dando continuidade ao seu plano, o capitão fez entrar um dos seus homens em cada um dos odres;  todos bem armados; em seguida fechou-os bem, deixando apenas uma entrada de ar para que pudessem respirar normalmente. Em seguida, para melhor disfarçar, labuzou cada um dos odres com azeite retirado do recipiente comprado cheio. 
              Quando tudo estava pronto e os cavalos machos carregados com os trinta e sete ladrões, tomou o caminho da cidade, onde chegou pouco depois do por do sol. 
                Chegando à cidade foi diretamente para a casa de Ali Babá, onde pretendia se apresentar e pedir para ali passar a noite com sua mercadoria. 
                Ali Babá estava sentado à porta, tomando ar fresco.  Parou com sua tropa e dirigindo-se a ele disse-lhe: 
                 - Meu caro senhor. Venho de muito longe trazendo azeite para vender no mercado desta cidade; não sei onde fica a hospedagem e como estou muito cansado e meus animais também, peço pelo sua bondade que nos deixe passar a noite aqui em seu páteo.
                  Ali Babá já o tinha visto no boque por ocasião da descoberta do segredo que abria a porta da gruta, mas não o reconheceu devido ao habilidoso disfarce criado pelo capitão, e lhe disse: 
                  - Sê bem vindo, pode entrar e acomodar-se por aí. 
                  Ali Babá chamou o seu criado e deu-lhe ordem para que cuidasse dos cavalos que já estavam cansados pela viajem. Em seguida chamou Morgiana e mandou que providenciasse uma boa ceia para o novo hóspede. E, como era um homem de bom coração, depois de ver descarregado os animais que já tinham sido alimentados e prontos para passar uma noite de descanso, convidou o capitão para que passasse a noite em sua casa dizendo que não permitiria que se deitasse no páteo.
                  O capitão mostrou-se resistente sob o pretexto de que não queria dar trabalho ao seu anfitrião, mas o verdadeiro motivo era executar com maior facilidade seu projeto, e, depois de grande resistência cedeu aos oferecimentos de Ali Babá. 
                  Para ser mais gentil ainda, Ali Babá quis fazer-lhe companhia e conversar enquanto Morgiana providenciava sua ceia dizendo: 
                  - Fique completamente à vontade, meu amigo visitante, sinta-se em sua casa. 
                  Enquanto Ali Babá foi ter com Morgiana o capitão levantou-se dizendo que iria dar uma olhada nos animais. 
                  Ali Babá recomendou a Morgiana que dispensasse todos os cuidados ao visitante e acrescentou: saiba Morgiana que amanhã bem cedo vou ao banho na cidade. Providencie meu lençol (toalha) e entregue-o ao Abdala - (nome do seu escravo); prepara também um bom caldo para quando eu voltar. Em seguida foi deitar-se. 
                Enquanto isso tudo acontecia, o capitão foi falar com seus companheiros, que estavam escondidos nos trinta e sete odres, para instruí-los como deveriam agir. Disse-lhes: 
              - Quando eu, lá do meu quarto, atirar umas pedrinhas sobre vocês será a hora de agir; abram imediatamente  os odres com suas facas de alto a baixo e fiquem prontos para agir. 
          Ao voltar para dentro de casa  encontrou Morgiana na porta da cozinha  com um pequeno lampião que em seguida conduziu-o até seu quarto.
                Pouco depois o capitão voltou para o quarto, apagou o lampião e deitou-se vestido como estava. 
                Morgiana foi então providenciar o que lhe havia mandado seu amo; preparou o lençol de bonho e deu as instruções aos criado Abdala. Em seguida foi providenciar o caldo para quando Ali Babá voltasse do banho. Percebeu que seu azeite havia acabado e a luz do candieiro apagou-se. Ela precisava de luz, mas não tinha nem mesmo velas; pediu a Abda-la que lhe ajudasse; este lhe deu a sugestão que apanhasse um pouco de azeite de qualquer um daqueles odres, pois certamente o capitão não se incomodaria com isso. 
                  Assim fez Morgiana. Quando se aproximou do primeiro odre, o ladrão que estava lá dentro escondido perguntou em voz baixa: - É agora? 
                Apesar de ter falado muito baixo, Morgiana ouviu muito bem a voz, pois todos os odres tinham uma pequena abertura que permitia aos escondidos respirar. 
                   Certamente qualquer outra mulher que não fosse Morgiana, ao ouvir uma voz de homem dentro do odres teria ficado espavorida, mas ela tinha sangue frio  e percebeu logo o perigo que se encontravam Ali Babá, sua família e todos os demais que ali residiam. Era urgente pensar em alguma coisa e então friamente lhe respondeu: - ainda não. 
                  Aproximou-se do odre seguinte que lhe fez a mesma pergunta e assim sucessivamente até chegar ao último, e a todos deu a mesma resposta. 
                  Outra que não fosse Morgiana, encontrando em vez de azeite um homem dentro do odre, teria feito um grande alarme que acordaria não só os de casa, mas até a vizinhança, o que teria sido fatal; porém a escrava era muito esperta e resoluta além de ter bons sentimentos. Compreendeu logo a necessidade de calar-se, vendo o perigo em que estava seu amo, toda a família e também ela; pensou que deveria resolver rapidamente aquele caso. Por um momento, sem mostrar na voz a menor emoção, respondeu a todos que ainda não era a hora. 
                Morgiana estava certa de que seu amo havia se enganado ao ser gentil com aquele estranho. Pensando dar pousada a um mercador de azeite, teria colocado toda a família em risco com trinta e oito bandidos em sua casa.
                  Quando a escrava finalmente encontrou o odre com azeite tratou de encher logo sua jarra e voltar imediatamente à cozinha; preparou e acendeu o lampião, pegou uma grande caldeira e voltou ao páteo. Foi até o odre que estava com azeite, encheu a caldeira e subiu até a cozinha. Abasteceu o fogão com muita lenha seca e pôs o caldeirão para ferver. Morgiana não media esforços para salvar seu amo. Logo que o azeite ferveu, desceu novamente ao páteo com o caldeirão e aproximando-se do primeiro odre despejou azeite fervendo sobre a cabeça  do ladrão e fechou-o em seguida; assim fez com todos os odres onde os ladrões se escondiam. Dessa forma queimou e sufocou todos os salteadores que estava escondidos naqueles odres. 
              Apos seu valoroso e corajoso trabalho, morgiana voltou para a cozinha com o caldeirão vazio; fechou a porta, apagou parte da lenha que ainda ardia em labaredas, deixando apenas o suficiente para aprontar o caldo para seu amo. Feito isso, apagou a lâmpada e ficou em silêncio; preferiu não deitar-se para observar , espreitando pela janela da cozinha, o que aconteceria no páteo. 
               Ainda era noite e a escuridão permitia pouca luz sobre o páteo. Percebeu que o capitão levantara e dava sinal de que iniciaria sua ação tão planejada. Viu que ele estava examinando se havia alguma luz na casa e, reinando absoluto silêncio, convenceu-se de que todos estavam dormindo. 
            O capitão, tendo certeza de que não era observado, atirou as pedrinhas que tinha guardado consigo, as quais caíram sobre os odres; aguçou os ouvidos e viu que ninguém despertara; imaginou que estivessem adormecidos, mas voltou a atirar mais pedrinhas e nem assim davam sinal algum; não pode compreender a razão porque isso estava acontecendo. 
                  Inquieto e receoso, desceu até o páteo, pé ante pé, e aproximando-se do primeiro odre perguntou ao ladrão se estava dormindo, mas em vez de resposta sentiu o cheiro de azeite fervido e de queimado; da mesma forma procedeu em todos os demais odres sem que ninguém desse sinal de vida. Percebeu então que todo o seu plano para vingar-se de Abi Babá, matando-o e saqueando-lhe a casa, estava perdido.
                  Quando chegou ao odre que continha azeite, pode finalmente confirmar sua suspeita e que tinha sido enganado por alguém.
                 Vendo frustrado seu plano e toda a quadrilha morta, no auge do desespero, foge às pressas pulando todos os muros e correndo em direção à floresta. 
                  Morgiana, que por uma pequena fresta da janela observava o que acontecia lá fora, sentiu-se aliviada e não tinha mais dúvida de que o capitão havia fugido e, portanto, a casa estava finalmente segura.  Satisfeita pelo bom resultado da sua tarefa e venda que a casa estava livre de perigo, foi finalmente deitar-se para descansar um pouco, antes que o sol surgisse. 
                 Ao amanhecer Ali Babá saiu de seu quarto para ir ao banho e chamou seu escravo Abdala; saíram juntos sem que nenhum dos dois soubesse do que havia acontecido, porque Morgiana julgara que não era conveniente revelar-lhes coisa alguma até ter certeza de que tudo já se passara e que não havia mais riscos, reservando-se para contar mais tarde.      
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CAPÍTULO IV
                 Enquanto Ali Babá estava no banho, Morgiana aproveitou para tratar dos costumeiros afazeres da casa. 
                  Já era pleno dia e o sol reinava absoluto sobre o páteo quando Ali Babá , acompanhado do seu criado Abdala, chegou de volta da cidade, onde tinha ido ao banho; entrando no páteo admirou-se por ver que todos os odres continuavam em seu lugar; perguntou a Morgiana se sabia a razão porque o mercador não fora vender seu azeite, como dissera na véspera.  Morgiana porém, querendo mostrar-lhe com fatos e não com simples palavras o que havia acontecido, respondeu-lhe: 
                 - Meu bom amo, que Deus vos conserve a vida e a de toda vossa família. Sabereis melhor o que desejais se concordares em ver o que vou mostrar-vos, se isso não lhe for incômodo.
                 De bom grado Ali Babá seguiu Morgiana, e aproximando-se de um dos odres disse-lhe: 
                  - Espreitai dentro desse odre, e vede a qualidade de azeite que contém.
                  Ali Babá aproximou-se e olhou para dentro do odre, e vendo que ali havia um homem morto, recuou dando um grande grito.
                  Morgiana, então, veio tranquilizá-lo dizendo:
                  - Nada tens que temer, meu caro amo; o homem que ali vistes não vos fará mal, nem a vos nem a pessoa alguma. 
                  - Morgiana! exclamou Ali Babá, que quer dizer com isto? Explica-te...
                  - Eu vos explicarei, respondeu a escrava, moderai primeiro o vosso espanto, para que os vizinhos não saibam o que se passou aqui; é muito perigoso se vieram a sabê-lo; ide, entretanto, examinar os demais odres. 
                 Ali Babá, atendendo ao pedido de Morgiana, foi ver um a um os odres até chegar ao último que tinha azeite, notando contudo que estava quase vazio. Ficou imóvel no meio do páteo, calado e assustado. Ora olhava para Morgiana, ora para os odres; tal era o estado de surpresa em que se achava. Morgiana olhava e nada lhe dizia. 
                 Finalmente, como se de repente tivesse recuperado a fala, disse para Morgiana: 
                 - Não vi o mercador; sabes, por acaso, por onde anda ele? 
                 - O mercador, respondeu Morgiana, é tão mercador quanto eu. Dir-vos-ei também ué aquele farsante e para onde foi. Porém, peço-vos que ouça atentamente toda a história que agora vou contar; primeiro vamos ao seu quarto para que tome o seu caldo antes que esfrie.
                 Enquanto Ali Babá se dirigia ao seu quarto, foi Morgiana buscar na cozinha o caldo que havia preparado  para seu amo. 
                 Ao voltar ao quarto trazendo o caldo, Ali Babá disse à Morgiana: 
                 - Antes de tomar o caldo quero que satisfaças minha curiosidade contando os acontecimentos que se passaram em minha casa sem que eu percebesse. 
                 Morgiana, obedecendo à ordem do seu amo, começou a falar: 
                 - Ontem à noite, quando vos recolhestes ao vosso quarto, fui preparar a vossa roupa de banho, como havia ordenado, e entreguei a Abdala; depois pus sobre o fogo a panela para preparar o caldo; aconteceu, porém, que a lamparina apagou-se por falta de azeite. Como já não havia mais comércio aberto àquela hora, fiquei muito aflita e pedi ajuda a Abdala; ele deu-me a sugestão de apanhar um pouco de azeite num dos odres do mercador; estava certo de que essa minha atitude não o incomodaria, pois estávamos dando-lhe hospedagem, graças à vossa generosa atenção.
                  Apanhei um vasilhame e fui direto ao primeiro odre para tirar um pouco de azeite que estava precisando para a lamparina. Ao aproximar-me, porém, de dentro dele saiu uma voz perguntando: - Já está na hora? 
                   A princípio aquilo me pareceu estranho, mas não me assustei; percebi logo que havia algo de muito errado e imaginei que tratava-se de uma velhacaria do falso mercador; sem demonstrar meu espanto, respondi imediatamente: "ainda não, logo mais". E fui andando de odre em odre ouvindo sempre a mesma pergunta e dando sempre a mesma resposta. Quando cheguei no último odre finalmente encontrei o azeite de que precisava para a iluminação. E Morgiana continuou seu relato: 
                  Voltando à cozinha, pensei e cheguei à conclusão que ali estavam os trinta e sete ladrões esperando a ordem do seu chefe para matar-vos, bem como a todos nós e depois lançar fogo à vossa casa. Não tinha nenhum tempo a perder e tomei a decisão. Peguei a grande caldeira e fui enchê-la com azeite do último odre. Voltei á cozinha e pus a caldeira no fogo para ferver o azeite; em seguida fui ao páteo e despejei uma porção de azeite fervendo dentro de cada um dos odre, fechando em seguida cada um deles para evitar que pudessem sair sem sufocar-se até à morte. Assim, não poderiam por em prática seu objetivo. E continuou Morgiana: 
                  Feito isto, fui até a cozinha, apaguei a lamparina e fiquei no escuro espreitando pela janela o que aconteceria. Passado algum tempo, vi que o falso mercador começou atirar pequenas pedras  em direção aos odres; tratava-se do sinal combinado para o início do ataque. Como ninguém respondia, ele repetiu isto três vezes, até que não vendo o resultado que esperava, desceu precipitadamente ao páteo, e andou de odre em odre até chegar ao último; sempre falando tão baixinho que eu não consegui ouvir o que dizia; depois o perdi de vista devido à escuridão da noite.  Esperei ainda algum tempo, e vendo que não apareci de volta, acreditei que já teria fugido, o que de fato aconteceu. Em seguida, não tendo nada mais a fazer e já muito cansada, mas tranquila porque estávamos todos seguros, fui descansar em meu quarto.  E concluiu Morgiana, eis aqui a história do que se passou.
                  Depois de ter contado tudo sobre os últimos acontecimentos, Morgiana resolveu que era hora de falar também sobre os fatos anteriores acontecidos, dizendo: 
                 - Meu caro amo! Tudo o que aconteceu foi continuação de fatos ocorridos dias anteriores, mas que preferi não contar-vos, tanto porque não tinha certeza como também para não preocupá-lo sem justa causa. Na ocasião não imaginei que o risco que estava correndo fosse de tal monta. É o seguinte: certa manhã, voltando eu das compras que costumo fazer todos os dias, notei que a porta estava marcada com um sinal de tinta branca, e no dia seguinte com outra marca de cor vermelha. Tive certos pressentimentos, e em cada um dos dias, marquei também as portas próximas com sinais nas mesmas cores. Ora, se compararmos esses fatos com o que agora ocorreu, não é difícil concluir que foi obra desses ladrões.  Seja como for, é importante tomar cuidados porque aqui estão 37 ladrões e,pelo que sabemos, são 40; portanto, existem outros três que estão por aí, que provavelmente virão tentar contra vossa vida. Quanto a mim, pode estar certo de que sempre estarei atenta e nada esquecerei para velar pela vossa segurança, como é meu dever. 
                   Tendo Morgiana acabado de falar, Ali Babá, comovido pela grande obrigação de que lhe era devedor, respondeu: 
                  - Espero não morrer sem ter recompensado teu zelo, como merece. Devo-te a vida. Para mostrar o meu profundo agradecimento, começo dando-te imediatamente  a liberdade. Portanto, a partir deste momento, já não és mais escrava e sim uma grande amiga. Além disso irei recompensar-te generosamente. Tal como tu, estou convencido de que foram os 40 ladrões que tentaram essa cilada da qual me salvaste com a ajuda de Deus; agora já não és mais minha escrava, mas tenho esperança de que continuarás a proteger-me contra eles. São pessoas perigosas, não só para mim, mas para todas as pessoas e cidade onde atuam. Agora tenho que tomar providências sobre  os cadáveres dessa escória humana. Precisamos tomar todas as medidas com muita cautela, e em absoluto segredo. Ninguém deve ficar sabendo , nem em sonho, qual foi o destino deles; eu e Abdala iremos imediatamente tratar disso. 
                  O jardim de Ali Babá era grande e terminava em uma alameda de grandes árvores. Foi para o lugar mais longe possível da casa e, com seu escravo Abdala, começou os  trabalhos de abrir uma grande vala que fosse possível enterrar os trinta e sete corpos. Como recentemente havia chovido, o terreno estava macio e isso facilitou o trabalho, mas mesmo assim não foi fácil m pela quantidade de corpos a serem enterrados. Depois que a vala estava pronta, foram até os odres, tiraram os corpos e os transportaram um a um até a vala; antes porém, pegaram suas armas e as separaram para depois dar um destino. Terminado o enterro, Ali Babá escondeu cuidadosamente os  e as armas; quanto aos cavalo machos, mandou que Abdala os vendesse aos poucos no mercado da cidade; não era prudente vender todos ao mesmo tempo para não despertar curiosidade. 


CAPITULO V
O capitão dos ladrões continuava seu caminho a pé em direção à floresta onde estava sua gruta com o tesouro guardado por um segredo. 
                   Enquanto Ali Babá tomava medidas para que ninguém descobrisse como havia ficado rico tão rapidamente, o capitão dos ladrões seguia seu caminho para a gruta. Estava se sentindo arrasado e, depois de tudo o que acontecera, mal conseguia coordenar seus pensamentos.  Tudo aquilo mais parecia um pesadelo, mas era real; e nesse estado de confusão mental e abatimento físico, chegou finalmente à gruta sem ter imaginado nenhuma outra forma de se vingar de Ali Babá. Aquela gruta, que antes tanta alegria lhe dava, agora estava sombria e até causava-lhe pavor; sabia que não tinha mais ninguém com quem pudesse contar. Em alguns momentos deixou escapar seus pensamentos dizendo em voz alta e eloquente:  
                  - Valentes amigos, companheiros das minhas vigílias, das minhas correrias e dos meus trabalhos, onde estais? e que sou eu sem vós? Reuni-vos a mim, gente escolhida, para eu ser a causa de vossa morte, por uma aventura fatal e tão indigna da vossa coragem! Não lamentaria a vossa má sorte se houvésseis perecido de sabre em punho, como bravos guerreiros que éreis! Quando terei outro grupo de homens tão corajoso como vós? E se o tivesse, impediria que tanto ouro, tanta prata e tantas outras riquezas estivessem à mercê daquele que já enriqueceu com parte delas? Não posso nem devo pensar nisso, sem primeiro tirar a vida daquele homem que foi nossa desgraça. Ah! o que não pude fazer com auxílio tão poderoso, falo-ei sozinho, e quando tiver a certeza de que este tesouro não está exposto à pilhagem, então trabalharei para que este valioso legado não fique sem sucessores, para que continuem aumentando pela posteridade. 
                   Tomada essa decisão, contra a qual não via razão ou motivos que pudessem opor-se, o capitão, cheio de esperança e com o espírito tranquilo, deitou-se e adormeceu. 
                   No dia seguinte levantou-se muito cedo, como tinha planejado na véspera, vestiu-se com roupas apropriadas para os serviços que deveria executar, e voltou para a cidade. Alojou-se na hospedaria e, pensando que o caso dos ladrões mortos tivessem tido alguma repercussão, perguntou ao hospedeiro se havia algo de novo pela cidade. Esta, porém, contou-lhe a respeito de vários outros casos que em nada lhe interessava, mas não disse absolutamente nada sobre Ali Babá. 
                  O capitão, que era homem muito esperto, logo imaginou as razões que teriam levado Ali Babá a manter segredo sobre o grave caso ocorrido em sua casa. Pensou consigo mesmo: "Ele nada contou porque lhe convinha que outras pessoas tomassem conhecimento sobre seu segredo e sua fortuna; só me resta tirar a vida de Ali Babá com minhas próprias mãos". Esses pensamentos só faziam aumentar seu desejo de eliminar definitivamente seu inimigo e, juntamente com ele, o segredo que sempre fora bem guardado por todos os ladrões das gerações anteriores.
                 No dia seguinte comprou um bom cavalo e começou a transportar diversos produtos que tinha guardado na caverna. Eram diversas tapeçarias, estofos, peças de tecidos da mais alta qualidade e outros objetos também muito valiosos.  Para conseguir juntar uma boa quantidade, teve de dar muitas viagens, sempre tomando todos os cuidados para que ninguém sde seu segredo. Desta vez, para dar cabo ao seu objetivo, resolveu estabelecer-se com um comerciante comum. 
                Procurou uma loja e, depois de alugá-la, guarneceu-a convenientemente e ali estabeleceu-se definitivamente. Por ironia do destino, a loja fazia divisa com uma casa que pertencera a Cassim, e que agora estava ocupada pelo filho de Ali babá. 
                O capitão dos ladrões, que tomara o nome de Cogia Hussan, na qualidade de novo comerciante do bairro, foi logo cumprimentar e oferecer seus serviços aos logistas mais antigos e vizinhos.  De todos o que mais lhe agradou foi exatamente o filho de Ali Babá. Era um rapaz agradável, gentil e muito atencioso. Em pouco tempo tornaram-se amigos e passaram a conversar constantemente.Nessas conversas, que eram frequentes, passavam longas horas do dia, ora na loja de um, ora na loja do outro. 
                 Certo dia, estando Cogia Houssan na loja do amigo, chegou Ali Babá que sempre vinha visitar seu filho e com ele ficou longo tempo conversando, como era de costume sempre que o visitava; quando Ali Babá saiu, o filho contou ao seu amigo que aquele homem era seu pai. A partir de então o falso Cogia Houssan redobrou de assiduidade em casa do filho de Ali Babá,  procurando estreitar cada vez mais os laços de amizade e até convidando-o a jantar em sua casa. 
                 Com tanta atenção e gentileza, o filho de Ali babá sentia-se desconfortável em não retribuir todas aquelas atenções do amigo e pensou em retribuir convidando Cogia para janta em sua casa; entretanto, como morava numa casa muito humilde e nada conchegante para receber visitas e muito menos para as banquetear; então falou com seu pai sobre esse desejo. 
                 Ali Babá era um homem que sempre estava pronto a ajudar quem precisasse e logo se prontificou a disponibilizar sua casa para que o filho pudesse receber seu amigo com toda a honra e conforto. Disse lhe então: 
                 - É claro, meu estimado filho! amanhã é sexta-feira, dia em que os mercadores de maior prestígio, como Cogia Housan e tu mesmo, costumam fechar suas lojas mais cedo e saírem a passeio; faça isso com seu amigo e na volta venham para minha casa e convide-o para entrar; Não se preocupe com nada que darei ordem para que Morgiana prepare um ótimo jantar.            
                 No dia seguinte, o filho de Ali Babá, após fechar a loja, reuniu-se com seu amigo e juntos foram a passeio pela cidade. Quando regressavam conduziu Cogia pela rua onde morava seu pai Ali Babá; chegando à porta da casa, parou e bateu dizendo: 
                 - É aqui que mora meu pai, o qual, sabendo da sincera amizade que há entre nós e de quantos favores vos sou devedor, deseja ter o gosto de conhecer-vos, e por isso me pediu que vos conduzisse até a sua casa. 
                 Esse convite fez com que Cogia Houssan ficasse muito feliz; finalmente ele havia chegado ao seu desejo que era introduzir-se na casa de Ali Babá para matá-lo sem risco e nem alarme. Mas acho que era prudente não aceitar o convite naquele momento; agradeceu e despediu-se o jovem; mas este não aceitou a recusa, pegou-o pelo braço e conduziu o capitão, quase à força, pela escada até a sala principal. 
                 Ali Babá recebeu aquela visita com todas as honras e demonstração de alegria, agradecendo as atenções e favores que este havia dispensado ao seu filho. Cogia Houssan retribuiu com outro cumprimento em que, para lisonjear o ânimo do pai, exaltou muito os méritos de seu filho. 
                 Depois de alguma conversação sobre diversos assuntos, Cogia Houssan já ia despedir-se, mas Ali Babá, detendo-o disse: 
                 - Não consentirei, senhor, que vos retireis tão cedo, quero ter o prazer de sua companhia jantando em minha casa. Não poderei lhe dar as honras que mereceis, contudo espero que me fareis a gentileza que solicito. 
                - Senhor, respondeu Cogia Houssan, estou plenamente convencido do vosso bom coração, e por isso espero merecer-vos o favor de permitir que me  retire; mas não penseis que assim o deseje, por qualquer motivo de despeito ou menos consideração para convosco; não! me sinto agradecido por uma razão bastante poderosa. 
                 - E que razão poderosa seria essa, consenti que vos pergunte, replicou Ali Babá. 
                 - Certamente vos direi, disse Cogia Houssan. Sabei, pois, que não posso comer carne nem guisados que tenham levado sal. Portanto, peço que entenda a minha abstinência na vossa mesa. 
                 - Se não tendes mais do que essa razão, não será ela que me tirará o prazer de cear na vossa companhia, insistiu Ali Babá; em primeiro lugar, o pão que se come em minha casa nunca leva sal, e no que diz respeito à carne ou a outros guizados, estou a tempo de prevenir minha cozinheira. Tende a bondade de ficar; eu vou dar algumas ordens e em poucos minutos volto aqui.
                 Ali Babá foi à cozinha e deu as suas ordens a Morgiana, especialmente para não colocar sal na comida. A rapariga já tinha os guizados quase prontos, admirou-se dessa ordem e respondeu que teria de preparar outros, porque os que havia feito já estavam salgados. 
                 - Quem é esse homem, exclamou a escrava, que não gosta de comida com sal? A vossa ceia, senhor, ficará a pior coisa do mundo sem esse importante tempero. 
                 - Não te incomodes, respondeu o amo; fase o que te ordeno. Trata-se de agradar um honrado comerciante a quem eu e meu filho devemos especiais favores. 
                 Morgiana tratou de obedecer, mesmo com má vontade e achando aquilo tudo muito estranho; mas ficou curiosa em ver o rosto daquele estranho visitante que não gostava de sal. Quando a ceia estava pronta, e Abdala já tinha preparado a mesa, Morgiana quis ela mesma levar os pratos, pois assim teria a oportunidade de satisfazer sua curiosidade. Mal o encarou, para seu espanto, viu logo que tratava-se do capitão dos ladrões que tinham vindo nos odres; olhou-o com bastante atenção e percebeu que tinha um grande punhal meio escondido no cinto. 
                 - Já não me admiro, disse a si mesma, que esta malvado não queira comer sal com meu amo, é seu inimigo feroz, e vem para assassiná-lo; não importa, eu sei como impedi-lo. 
                 Quando acabou de servir a mesa, a escrava retirou-se para ir tratar dos preparativos  para uma ação das mais audaciosas que podia imaginar-se; terminou estes preparativos justamente no momento em que Abdala veio dizer-lhe que era o momento de levar a sobremesa. Foi ela mesma quem quis fazer esse serviço. Depois colocou ao lado de Ali Babá uma pequena mesa e sobre ela três taças para servir o magnífico vinho que também trouxera para aquela mesa; e saindo da sala, chamou Abdala, para dar a entender que ambos iriam cear, deixando seu amo à vontade para conversar com seu hospede, ao mesmo tempo que saboreavam o vinho.
                 Então, o falso Cogia Houssan, ou melhor dizendo, o capitão dos ladrões, pensou que era chegado o momento favorável para matar Ali Babá, e pensou consigo mesmo: 
                 - "É preciso embebedar o pai e o filho; não tenho a pretensão de tirar a vida também do filho, mas  estando bêbado não conseguira impedir-me de cravar o coração de seu pai com o meu punhal; depois, correndo em direção ao jardim, salvar-me-ei como da outra vez; vou aproveitar para essas providências enquanto o escravo e  a escrava estão a cear, ou talvez já dormindo.     
                 Em vez de cear, Morgiana, que adivinhara a intenção do falso Cogia Houssan, não quis dar-lhe tempo para execução de seu criminoso projeto. Foi vestir um lindo traje de dançarina, maquiou-se convenientemente, pôs na cintura um belo cinto de prata dourada, no qual escondeu um punhal, cuja bainha era do mesmo metal do cinto; cobriu o rosto disfarçando-o sob uma delicada mascara. Depois de tudo ajustado como planejara, disse ao escravo: 
                 - Abdala, toma um bandolim e vamos divertir um o hospede do nosso amo e amigo de seu filho, como de outras vezes temos feito, quando ele está só. 
                 Abdala pegou no bandolim e começou a tocar; e caminhando diante de Morgiana, entrou na sala. Morgiana, chegando à porta, fez uma graciosa cortesia, ostentando o seu belo traje, para se tornar notável, ao mesmo tempo que dava a entender que desejava mostrar a sua habilidade.
                Percebendo Abdala que Ali babá queria dizer alguma coisa, parou de tocar. 
                - Entra, Morgiana, entra; Cogia Housasn apreciará a tua habilidade e dará o seu parecer. E voltando-se para o hospede, acrescentou: Não penseis, meu amigo, que com este divertimento faço a menor despesa. É costume o meu escravo e a minha cozinheira proporcionarem-me este passatempo, que espero não vos desagradá.  
                  Cogia Houssan, não esperava que Ali Babá tivesse incluído à ceia aquele importuno divertimento, ficou totalmente contrariado, vendo que não poderia aproveitar a ocasião para acabar de uma vez por todas com a vida de seu inimigo. Mas, ao mesmo tempo pensou consigo mesmo: "o melhor é sustentar essa amizade até que me apareça outra ocasião favorável!. Portanto, em vez de mostrar o desgosto que aquilo lhe causava, teve, ao contrário, de mostrar-se muito satisfeito com ele, e até lhe agradecer. 
                  Logo que Abdala viu que Ali Babá e o seu hospede tinham acabado de conversar, começou a cantar acompanhando-se com seu bandolim; e Morgiana, que não ficava atrás em habilidade a qualquer dançarina profissional, dançava de modo admirável. 
                  Depois de haver executado diferentes passos, tirou do cinto o punhal, e com ele na mão direita executava diferentes performances artísticas, ora fingindo ferir alguém, ora simulando enterrá-lo no próprio peito; isto tudo com movimentos muito ligeiros, acompanhados de saltos admiráveis e posições encantadoras. 
                 Já bastante cansada, tirou o bandolim das mãos de Abdala e foi com muita graça e gentileza apresentá-lo a Ali Babá, como era de costume das grandes dançarinas profissionais. 
                  Ali Babá, que já estava acostumado a esse tido de dança profissional, colocou uma moeda de ouro sobre o bandolim. Morgiana, em seguida dirigiu-se ao filho do amo, o qual também deu outra moeda. 
                   Depois de ver essas duas ações da habilidosa dançarina, Cogia Houssan ficou à espera de que a dançarina se lhe dirigisse também, foi logo tirar uma moeda de sua bolsa, pondo a mão dentro dela; nesse momento Morgiana aproximou-se do capitão e com uma das mãos estendeu-lhe o bandolim, ao mesmo tempo em que coim a outra cravou-lhe o punhal no peito atravessando-lhe certeiramente o coração. Fez tudo isso com uma coragem digna de um guerreiro muito habilidoso. 
                Ali Babá e seu filho, espantados pela ação inesperada de Morgiana, soltaram, ao mesmo tempo, um estridente grito que ecoou pela vizinhança.
                 - Desgraçada! exclamaram, que fizeste? Com essa atitude perdeste a mim e a toda nossa família, disse Ali Babá; ao que ela respondeu:
                 - Não foi para perder-vos, mas sim para salvar-vos que fiz isto. 
                  E abrindo a veste do falso mercador, mostrou a seus amos o punhal que ali trazia quase oculto. 
               - Vê-de, acrescentou ela, em que mãos de amigo estáveis metidos; reparai nessa cara e dizei-me se não reconheceis o falso mercador de azeite que pernoitou aqui, ou para melhor dizer, do capitão dos quarenta ladrões. Não vos lembrais também de que não quis comida salgada? Quereis mais provas para convencer-vos dos meus intentos malvados? Antes mesmo que eu o visse, já tinha tido mau pressentimento acerca desse estranho hospede. E finalmente, como acabastes de ver, o meu pressentimento não foi infundado. 
                Ali Babá, vendo a nova obrigação em que ficava devedor a Morgiana, porque pela segunda vez lhe salvara a vida, abraçou-a dizendo: 
                 - Já te dei a liberdade, e nessa ocasião prometi que o meu inteiro reconhecimento não se demoraria muito. É chegado  o momento, e daqui em diante, quero chamar-te de minha filha.
                E voltando-se para o filho, acrescentou: 
                 - Meu caro filho, conhecendo seu bom coração e honra, me faria muito feliz se escolhesse Morgiana para sua esposa. Não lhe deveis menos obrigações do que eu. Como já percebeste, o falso Cogia Houssan só se aproximou de ti para conseguir seu objetivo de matar-me como também a toda nossa família. Se tivesse conseguido, neste  momento estaríamos todos mortos e ele vitorioso com seu crime. Deveis pensar que desposando Morgiana, estarás unindo a vossa sorte à salvadora da nossa família, que será o sustentáculo da minha vida, como também a proteção da vossa.
                O filho de Ali Babá, longe de mostrar descontentamento pelo enlace, deu mostra de quanto lhe agradava, não só por obedecer o pai, mas também porque mantinha um secreto sentimento pela bela e talentosa Morgiana. 
                 Depois, passado o momento de emoção, trataram de enterrar o corpo do capitão na mesma vala onde estavam seus antigos companheiros. 
                 Poucos dias depois Ali Babá celebrou o casamento de seu filho com Morgiana. A união foi celebrada diante de muitos convidados, acompanhada de um grande banquete com danças, iluminação especial e outras diversos, como era costume na época. 
                 Ali Babá ficou muito feliz por receber seus parentes e amigos e também por ter a certeza de que ninguém sabia sobre a verdadeira origem daquele casamento. Todos aproveitaram e se mostraram felizes porque já conheciam e admiram a dedicação de Morgiana e por ela tinham grande estima.  
                Ali Babá abstivera-se de voltar à gruta dos ladrões, desde que dali trouxera o corpo de seu irmão em um dos jumentos, bem como boa quantidade de ouro nos outros dois; temia ser surpreendido pelos outros dois ladrões, já mortos pelo próprio capitão, mas que ele imaginava estarem vivos. 
                Depois de ter passado mais de um ano sem nada acontecer, vendo que ninguém daqueles possíveis sobreviventes aparecia, sentiu o desejo de fazer uma nova visita à gruta, indo, porém, com toda a cautela e segurança. Montou seu cavalo e foi até a floresta. Chegando perto da gruta pode ver que não havia nem vestígios daquela gente e nem de cavalos.  Apeou-se, prendeu o cavalo a uma árvore, e posicionando-se em frente da porta disse as palavras mágicas: 
               - "Abre-te Sésamo", que nunca esquecera. A porta abriu-se, e logo pode perceber que ninguém mais estivera ali, uma vez que tudo estava como havia ficado na última vez que ali estivera. Então sentiu-se seguro, com a certeza de que ninguém ali tinha entrado depois do falecido capitão, na oportunidade em que estivera transportando produtos para estabelecer-se como comerciante na cidade. Isto lhe deu a certeza de que já não havia mais ninguém da perigosa quadrilha dos 40 ladrões; tinha também certeza de que, naquele momento, ele era o único detentor do segredo para abrir a porta da gruta e, dessa forma, tudo o que ali havia era exclusivamente seu. Como havia levado uma grande mala, aproveitou e encheu-a de ouro como pode. 
                  Passado mais um grande tempo, Ali Babá levou seu filho à gruta e ensinou-lhe o segredo para abrir a porta. Pai e filho, aproveitando com moderação aquela fortuna, gozaram o resto dos seus dias vivendo com grande esplendor, e honrados com a estima das mais importantes famílias da cidade. O segredo dos quarenta ladrões passou a ser um legado aos descendentes do filho de Ali Babá. Além disso, como bom resultado, não houve mais saques à pessoas e às cidades, uma vez que toda a quadrilha dos 40 ladrões deixaram de existir.